CONTRA...


A África contra a Sida. Uma bem elaborada campanha de TV, com actores de alta qualidade, que só nos merece um reparo: não haver igualmente uma América contra a Sida, uma Europa, uma Ásia ou uma Oceânia igualmente contra ela.

Claro que isto parece ter uma explicação: levar as pessoas a pensar ( e naturalmente também os africanos) que são eles que têm  “ culpa” da Sida, tal como se boatou, sem qualquer base cientifica, quando esta apareceu.


E como os africanos são uns pacíficos bodes expiatórios de todas as culpas, aí temos,  os spots que a nossa televisão agradecidamente passa, que a TVI (portuguesa) igualmente passa, para nosso benefício, para que  nos acautelemos (e a Europa e a as Américas se desculpabilizem) numa campanha que parece  ser exclusiva e unicamente feita para nós. Como se fossemos os únicos. Os proprietários da doença. Os coitadinhos que possuímos aquilo que os outros não têm - Sida.

Entretanto, as doenças não param. Se não temos um catálogo de doenças à escolha, poderemos dizer que todos os anos se arranja uma meia dúzia de novas enfermidades . E nesta, a mais recente de todas, parece ser a das vacas loucas.

Calculo que os grandes estrategos, devam futuramente atribuir a África, senão o começo, pelo menos a culpa do seu alastramento. No propósito de uma grande campanha da “ África contra as Vacas  Loucas” talvez inventem, muito apropositadamente, ONGs do bife para matar a fome ao terceiro mundo. Servir-se-à a dita mazela em bifes normais ( bem ou mal passados) com ovo a cavalo, em bifes de cebolada, em bifes panados e, se é certo que as pessoas morrerão naturalmente por isso, fazem-no pelo menos de barriga cheia, devidamente aconchegados, o que poderá vir a constituir um nóvel  item nos  direitos humanos: morrer abifado para matar a fome.

Um pouco mais ou menos assim como quando se fabricam minas e depois nos mandam sapadores qualificados para desminar as nossas terras e próteses para ajudar a andar as nossas gentes.

O que no fundo é preciso entender é que é urgente redescobrir a caridade. Reinventar e modernizar a caridade cristã a cada momento, circunstância e passos da nossa vida. Modernizar e adequar a caridade ao progresso e às exigências do tempo. Entrar no terceiro milénio continentalizando a caridade, globalizando a mão amiga, criando espaços para que o bife contra a fome venha a ser uma realidade...

Vistas por um certo prisma  as vacas loucas, podem vir a ser  consideradas como agentes da caridade. As minas, a Sida, serão indiscutivelmente uma  euro-americana oportunidade de caridade. Principalmente quando, longe de casa, em terras de Missão, se podem reconfortar os corpos e salvar as almas.

Darío de Melo